Estudo liga vapor de gasolina a câncer e expõe risco a frentistas
Pesquisa internacional revela ligação entre inalação de gasolina e câncer; entidades cobram ações urgentes para proteger trabalhadores de postos de combustíveis
Por Plox
30/03/2025 09h57 - Atualizado há 2 dias
A inalação dos vapores de gasolina automotiva foi oficialmente reconhecida como causadora de câncer de bexiga e leucemia mieloide aguda em adultos. A conclusão faz parte de um estudo da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC), divulgado na revista The Lancet Oncology.

O impacto é maior entre os trabalhadores que mantêm contato direto com o combustível durante sua produção, transporte e abastecimento de veículos. Entre esses profissionais, os frentistas de postos de combustíveis são os mais expostos. Em resposta à gravidade da situação, a Federação Nacional dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo (Fenepospetro) cobra a adoção imediata de medidas eficazes para garantir a saúde desses trabalhadores.
A entidade destaca a necessidade de instalação de sistemas de recuperação de vapores nas bombas, com o objetivo de reduzir a exposição a substâncias tóxicas. De acordo com Eduardo Silva, secretário de saúde da Fenepospetro, a divulgação da nova classificação feita pela IARC deve servir como alerta para políticas públicas mais rigorosas e fiscalização constante.
Além das doenças já mencionadas, o estudo também aponta indícios, ainda que limitados, de relação com linfoma não-Hodgkin (incluindo leucemia linfocítica crônica), mieloma múltiplo, síndromes mielodisplásicas, câncer de estômago e de rim em adultos, além de leucemia linfoblástica aguda em crianças.
A composição da gasolina inclui uma mistura de hidrocarbonetos e aditivos que aprimoram sua performance. Entre esses, cinco são reconhecidos como tóxicos e cancerígenos: benzeno, cumeno, xileno, tolueno e etilbenzeno. Já os compostos ETBE e MTBE possuem evidências limitadas de causar câncer, enquanto DIPE, TAME e TBA foram classificados como não cancerígenos.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA), por meio de seu setor técnico Ambiente, Trabalho e Câncer, elenca uma série de orientações para proteger os profissionais da área:
– Interromper o abastecimento assim que o sistema automático da bomba indicar;
– Evitar cheirar a tampa do veículo antes do abastecimento;
– Trocar imediatamente o uniforme molhado com combustível;
– Realizar exames clínicos e laboratoriais periódicos;
– Utilizar corretamente os equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras.
Para os estabelecimentos, o INCA recomenda medidas como:
– Instalar sistemas de recuperação de vapores nas bombas;
– Cumprir as normas NR 20 e NR 09;
– Manter os bicos automáticos das bombas em bom estado;
– Usar dispositivos contra respingos (flanelas são proibidas);
– Implantar leitores eletrônicos nos tanques subterrâneos;
– Fornecer equipamentos adequados para lavadores de carro;
– Promover capacitação constante dos funcionários;
– Garantir e higienizar semanalmente os uniformes e calçados fornecidos.
A reportagem da Agência Brasil procurou a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para verificar se haverá atualização nas normas após a publicação do estudo, mas ainda não obteve retorno.
A mobilização de trabalhadores e sindicatos continua, buscando assegurar condições dignas de trabalho frente aos riscos comprovados pela ciência.