Preço do bacalhau dispara e tilápia mineira vira alternativa popular na Páscoa
Com alta do dólar, bacalhau encarece e consumidores recorrem à tilápia, cujo preço se mantém estável graças à produção abundante em Minas
Por Plox
30/03/2025 10h07 - Atualizado há 2 dias
Com a chegada da Quaresma, o mercado de pescados se aquece e os comerciantes em Minas Gerais já preveem um crescimento significativo nas vendas para a Páscoa. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), a expectativa é de um aumento de 30% nas vendas em relação ao restante do ano.

Neste cenário, a tilápia tem se destacado como uma das principais alternativas ao tradicional bacalhau, que registrou aumento considerável nos preços devido à alta do dólar. O bacalhau Saithe, por exemplo, passou de R$ 73,50 para R$ 85,05, uma alta de 15,72%, enquanto o Cod subiu 8%, chegando a R$ 185,46 o quilo, conforme levantamento do site Mercado Mineiro.
Com uma produção aquecida no Estado, os piscicultores viram os estoques de peixes de água doce crescerem após a baixa nas vendas de fim de ano. Essa oferta ajudou a manter os preços estáveis. De acordo com Eli Dias Junior, engenheiro agrônomo da Emater, o grande volume acumulado nos criatórios tende a evitar aumentos no preço.
Por outro lado, Eduardo Rasguido, consultor em piscicultura, alerta que os estoques estão se reduzindo. Segundo ele, muitos produtores não repuseram o plantel e, com o crescimento da demanda nesta época, o volume disponível começa a atingir seu limite.
Em Belo Horizonte, a Peixaria Lindeia, localizada no bairro homônimo na região do Barreiro, tem atraído consumidores com tilápia fresca retirada diretamente do tanque. O proprietário Felipe Santos relata que o preço está semelhante ao do ano passado, e estima um aumento de 40% a 50% no movimento durante a Quaresma. Além da tilápia, os mais vendidos são o surubim e o cascudo, seguidos de traíra sem espinha, dourado, salmão, sardinha e camarão.
A leve queda no preço da tilápia também tem favorecido seu consumo. O filé do peixe teve redução média de 2,85% em Belo Horizonte, indo de R$ 48,92 para R$ 47,53, conforme a mesma pesquisa do Mercado Mineiro. Para o pesquisador da Epamig em Felixlândia, Alisson Meneses, a tilápia vem ocupando um espaço importante na mesa dos mineiros, graças à sua qualidade e quase ausência de espinhas.
Enquanto isso, o bacalhau começa a perder espaço, tanto pelo preço quanto pela qualidade. Meneses observa que a maior parte da população consome cortes mais finos e com menos carne. A gerente da Cia do Camarão, Silvana Santos, ainda acredita na força da tradição e tenta manter os preços até a Páscoa, prevendo aumento de até 30% nas vendas em relação ao ano anterior.
Minas Gerais figura hoje como o terceiro maior produtor de peixes do Brasil, com 72,8 mil toneladas em 2024, atrás apenas de São Paulo e Paraná. A tilápia representa 94% dessa produção. Com a ampliação da capacidade de suporte do lago de Três Marias, há expectativa de o Estado ultrapassar São Paulo em breve e se aproximar do Paraná, maior produtor nacional.
Conforme o Anuário do Peixe 2025, Morada Nova de Minas lidera a produção estadual, seguida por Guapé, Ipiaçu, Indianópolis, Alfenas, Cachoeira Dourada, Carmo do Rio Claro, Três Marias, São João da Ponte e Felixlândia.
Apesar da produção expressiva, o consumo de peixes em Minas ainda é considerado baixo: apenas 0,92 kg por pessoa ao ano, segundo dados do IBGE de 2018. No Brasil, o consumo per capita de pescados foi de 10,5 kg em 2022, bem abaixo dos 24,2 kg de carne bovina consumidos por habitante no mesmo período.