Sindicato liderado por irmão de Lula bate recorde de arrecadação e entra na mira da PF
Entidade presidida por Frei Chico arrecadou mais de R$ 90 milhões com descontos em aposentadorias e está entre os alvos da Operação Sem Desconto, que investiga fraudes no INSS
Por Plox
30/04/2025 11h20 - Atualizado há 3 meses
O Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), vinculado à Força Sindical e conhecido por oferecer uma variedade de serviços como atendimentos médicos, odontológicos, academias e lazer, entrou no foco da Polícia Federal. A entidade teve sua arrecadação por meio de descontos em aposentadorias e pensões do INSS colocada sob investigação na Operação Sem Desconto.

A operação, deflagrada recentemente, visa combater irregularidades em descontos não autorizados realizados por entidades associativas. O Sindnapi, que tem como vice-presidente José Ferreira da Silva, o Frei Chico — irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —, arrecadou R$ 90,519 milhões com contribuições associativas em 2024. Esse montante representa um crescimento de 414% em relação a 2019, quando a arrecadação foi de R$ 17,588 milhões, segundo auditoria da Controladoria Geral da União (CGU).
Frei Chico, de 83 anos, figura histórica do sindicalismo e filiado à entidade desde 2008, assumiu a vice-presidência em 2023. Apesar da posição de destaque, ele não é alvo direto da investigação. Em entrevista, afirmou estar tranquilo e reforçou a necessidade de apuração rigorosa. \"Espero que a PF investigue de fato, porque tem muita entidade picareta por aí\", disse.
A defesa do Sindnapi aponta que o crescimento na arrecadação se deve ao aumento do número de associados, principalmente durante a pandemia, e ressalta que o maior crescimento ocorreu entre 2020 e 2022, durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Em nota, o sindicato classificou como absurda qualquer tentativa de associar os valores ao nome de Frei Chico.
Em resposta à operação, seis centrais sindicais divulgaram uma carta em apoio a Frei Chico, criticando o uso político da investigação e defendendo sua reputação. O documento denuncia o desvio de foco das investigações e o uso do caso como instrumento contra o governo e os trabalhadores.
Segundo dados da CGU e da PF, os descontos indevidos somaram R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) aparece entre as entidades que mais se beneficiaram do esquema. A autorização para esses descontos, mesmo diante de parecer contrário da Procuradoria do INSS, foi assinada por dirigentes como Alessandro Stefanutto, então presidente do instituto.
Reportagem do Jornal Nacional revelou que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi alertado sobre os problemas nos descontos dez meses antes de qualquer ação efetiva por parte do governo. A demora gerou desconfiança e pressão política.
A Operação Sem Desconto resultou na demissão de Stefanutto e no afastamento de outros dirigentes. A PF apontou que eles receberam mais de R$ 17 milhões por meio de intermediários do esquema, com valores repassados a empresas e familiares. Entre os acusados estão:
- Virgílio Oliveira Filho, ex-procurador do INSS: teria recebido mais de R$ 11 milhões. Sua esposa foi presenteada com um Porsche Taycan, de R$ 500 mil.
- Alexandre Guimarães: ex-diretor de Planejamento no governo Bolsonaro, teria obtido R$ 313 mil via empresa própria.
- André Paulo Félix Fideli: ex-diretor de Benefícios, ligado a transferências de R$ 5,1 milhões, incluindo a seu filho Eric Fidelis.
A operação apreendeu ao menos R$ 41 milhões em bens, incluindo:
- R$ 1,734 milhão em dinheiro e moedas estrangeiras;
- 61 veículos, avaliados em R$ 34,5 milhões;
- 141 joias, estimadas em R$ 727 mil;
- Máquinas, equipamentos e obras de arte.
A auditoria também identificou que os descontos não autorizados geraram impacto negativo no atendimento do INSS, pois muitos beneficiários procuraram o órgão para cancelamentos, sobrecarregando os serviços.
O relatório final estimou que os custos administrativos provocados por essas irregularidades chegaram a R$ 5,9 milhões para o INSS.
A investigação segue em curso, com foco no ressarcimento aos prejudicados e na responsabilização dos envolvidos nas práticas irregulares.