Amamentar mais de um ano reduz risco de câncer de mama

Pesquisa revela impacto do aleitamento na prevenção de câncer de mama

Por Plox

30/07/2024 14h33 - Atualizado há cerca de 2 meses

Um estudo publicado na Revista Cancer Medicine mostrou que cada 12 meses de aleitamento materno pode reduzir em 4,3% o risco de desenvolver câncer de mama. Esse efeito é cumulativo, segundo Maíra Domingues, coordenadora de Assistência do Banco de Leite Humano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz). "A cada nascimento, esse risco reduz 7%," afirmou Domingues à Agência Brasil.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Arquivo

Evidências globais

A pesquisa indica que essa redução ocorre em mulheres de diferentes países, faixas de renda, idades, grupos étnicos, e etapas da vida, incluindo a idade do primeiro parto. "O que a gente tem são diversas evidências robustas que revelam esse dado de redução do câncer de mama," explicou Maíra Domingues.

Recomendações de aleitamento

O Banco de Leite Humano recomenda o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida do bebê, conforme orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e a continuação da amamentação por até dois anos ou mais. “São justamente [com] esses dois anos ou mais [que se] ganha a proteção para o câncer de mama,” explicou Domingues. Além da proteção contra o câncer de mama, a amamentação traz diversos benefícios a curto, médio e longo prazo para a mãe e o bebê.

Benefícios adicionais

Entre os benefícios adicionais para a mãe, Domingues destacou a redução do risco de câncer de ovário, diabetes, e algumas doenças cardiovasculares. Para as crianças, a amamentação ajuda a prevenir doenças diarreicas, infecções respiratórias, promove um melhor desenvolvimento orofacial e da linguagem, além de reduzir o risco de obesidade e diabetes no futuro. Estudos também mostram que o leite humano possui células-tronco que podem ter aplicações terapêuticas.

Risco relativo e efeito protetor

O mastologista Afonso Nazário, do Hospital do Coração, esclareceu que a redução de 4% no risco de câncer de mama é um dado relativo para a população em geral, não um risco absoluto individual. "Se o risco de uma população é de 100 casos para cada 100 mil mulheres, uma redução de 4% seria sobre a população geral," explicou Nazário. Ele ressaltou que a amamentação por pelo menos um ano pode reduzir o risco de câncer de mama em 4%, e a cada novo parto, essa redução aumenta em 7%.

Importância da amamentação em idades jovens

Nazário destacou que o efeito protetor da amamentação é mais significativo em mulheres jovens, abaixo de 35 anos, e principalmente abaixo de 25 anos, quando o epitélio mamário é mais suscetível ao câncer. Mulheres que se tornam mães antes dos 25 anos têm uma redução de 35% no risco de câncer de mama na pós-menopausa, em comparação com aquelas que nunca tiveram filhos.

Estudos sobre populações específicas

A pesquisa conduzida pelas universidades federais de São Paulo (Unifesp) e do Amazonas (Ufam) com populações ribeirinhas e de Manaus revelou que a taxa de mortalidade por câncer de mama é inexistente entre as populações indígenas. A única variável protetora encontrada foi a amamentação, que entre as indígenas pode durar em média cinco a seis anos, um número significativamente maior do que na população não indígena.

Teorias sobre a proteção do aleitamento

O médico Guilherme Novita, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explicou que uma das teorias para a redução do risco de câncer de mama é que durante a amamentação o ovário entra em um estado de dormência, reduzindo a produção de hormônios do ciclo menstrual, que podem causar alterações nas células mamárias. Outra teoria sugere que a amamentação provoca modificações nas células mamárias, tornando-as mais estáveis e menos suscetíveis a agentes oncológicos.

Comparações e cuidados nos estudos

Novita alertou que estudos sobre os benefícios da amamentação devem ser analisados com cautela, especialmente ao comparar populações rurais e urbanas. Em países em desenvolvimento, onde há predominância de populações rurais, a expectativa de vida é menor devido à falta de cuidados básicos, o que pode influenciar a incidência de câncer de mama.

Conclusão

Apesar de não ser recomendada exclusivamente como prevenção do câncer de mama, a amamentação traz inúmeros benefícios para a mãe e o bebê. "A maior vantagem da amamentação é a nutrição da criança, especialmente em áreas com dificuldades alimentares," concluiu Novita. A amamentação, além de ser essencial para o desenvolvimento infantil, contribui para a redução da mortalidade infantil e pode diminuir o risco de câncer de mama, mesmo que transformar esses benefícios em números seja um desafio.

 

 

 

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