Montadoras ameaçam demissões diante de benefício a rivais chinesas
Volkswagen, Toyota, GM e Stellantis alertam governo sobre riscos de pacote que favorece sistema SKD
Por Plox
30/07/2025 21h22 - Atualizado há 2 dias
No dia 15 de junho, os presidentes das quatro principais montadoras instaladas no Brasil — Volkswagen, Toyota, General Motors e Stellantis — encaminharam uma carta conjunta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, externando profunda preocupação com os impactos de uma medida em análise pelo governo federal.

O alerta está relacionado à proposta de incentivo à produção de veículos no Brasil utilizando o regime SKD (Semi Knocked Down), no qual automóveis chegam quase prontos do exterior e são apenas montados no país, com pouca participação da cadeia de fornecedores locais. A proposta é articulada pela Casa Civil, sob coordenação do ministro Rui Costa.
Segundo os executivos, caso o plano avance, cerca de R$ 60 bilhões em investimentos imediatos podem ser perdidos, 10 mil vagas planejadas deixariam de ser abertas e até 5 mil funcionários atuais poderiam ser demitidos nas montadoras. A preocupação se estende à cadeia de produção, onde, conforme a estimativa do setor, cada vaga encerrada nas fábricas pode implicar em até dez cortes entre fornecedores — o que resultaria em cerca de 50 mil postos de trabalho a menos no total.
Assinada por Ciro Possobom (Volkswagen), Evandro Maggio (Toyota), Emanuele Cappellano (Stellantis) e Santiago Chamorro (GM), a carta também foi direcionada ao vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin. No texto, os líderes das montadoras ressaltam que a medida beneficiaria diretamente empresas chinesas, como a BYD, que possui investimentos relevantes na Bahia — estado de origem de Rui Costa.
Além das montadoras, entidades do setor de autopeças também se manifestaram. A Abipeças e o Sindipeças enviaram ao governo federal, no dia 28 de julho, um comunicado conjunto criticando a proposta. Para as instituições, a iniciativa configura uma
\"renúncia fiscal injustificada\"
e abre espaço para uma
\"concorrência inusitada\"
com a indústria nacional.
O temor das montadoras é de que a implementação do SKD, ao favorecer veículos quase prontos importados, reduza drasticamente o conteúdo nacional nos automóveis e enfraqueça todo o ecossistema de engenharia e autopeças no Brasil. O documento menciona que essa prática, se não contida, pode se disseminar por todo o setor automotivo, gerando efeitos de longo prazo na economia.
A origem da controvérsia remonta a um pedido feito pela chinesa BYD em fevereiro deste ano, que propôs a redução do imposto de importação dos kits SKD e CKD (Completely Knocked Down, referente a veículos totalmente desmontados). Atualmente, as alíquotas para elétricos são de 18%, e para híbridos, 20%. A proposta da empresa prevê reduções para 5% e 10%, respectivamente. A decisão será analisada em reunião extraordinária do Gecex-Camex (Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior) marcada para o dia 30 de julho, com a participação de representantes de 11 ministérios.
Caso o governo federal dê continuidade ao plano, o setor automotivo teme um revés significativo nos R$ 180 bilhões em investimentos prometidos para os próximos cinco anos, dos quais R$ 130 bilhões estariam voltados à produção de veículos e R$ 50 bilhões ao desenvolvimento da cadeia de autopeças. Até o momento, o governo ainda não respondeu oficialmente aos alertas das montadoras.