Caso Marielle: julgamento de Lessa e Élcio começa nesta quarta

Nove testemunhas prestarão depoimento durante a sessão: sete indicadas pelo Ministério Público e duas pela defesa de Lessa.

Por Plox

30/10/2024 07h32 - Atualizado há 8 meses

O julgamento dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 2018, inicia nesta quarta-feira (30). Em sessão no 4º Tribunal do Júri do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), o caso, que gerou ampla repercussão nacional e internacional, será conduzido com depoimentos de testemunhas e medidas de segurança especiais.

Acusados e testemunhas em videoconferência

Lessa e Queiroz, que respondem por videoconferência, participam da sessão diretamente das penitenciárias onde estão presos. Lessa encontra-se na Penitenciária de Tremembé, em São Paulo, enquanto Queiroz está no Centro de Inclusão e Reabilitação, em Brasília. Para assegurar a ordem e reduzir aglomerações devido ao impacto público do caso, a Justiça solicitou que apenas pessoas envolvidas diretamente no julgamento compareçam ao plenário. Algumas testemunhas também poderão ser ouvidas remotamente.

Testemunhas e estrutura do julgamento

Nove testemunhas prestarão depoimento durante a sessão: sete indicadas pelo Ministério Público e duas pela defesa de Lessa. A defesa de Queiroz optou por desistir das testemunhas que havia requisitado anteriormente. Esse julgamento marca um passo significativo no processo judicial, que há anos movimenta diversas instâncias policiais e judiciais para esclarecer os detalhes do crime.

A morte de Marielle Franco e Anderson Gomes

Marielle Franco foi assassinada no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, quando voltava de um evento de mulheres negras. Ela ocupava o cargo de vereadora havia pouco mais de um ano. Na emboscada, que ocorreu em 14 de março de 2018, o motorista da vereadora, Anderson Gomes, também foi atingido e morreu. A assessora de Marielle, que estava no veículo, foi ferida por estilhaços, mas sobreviveu. O crime gerou repercussão internacional, e, segundo o TJRJ, “os 13 tiros disparados naquela noite cruzaram os limites da cidade, e a atenção internacional voltou-se para o Rio de Janeiro. A morte de uma representante eleita pelo povo foi entendida por setores da sociedade como um ataque à democracia".

Investigações apontam mandantes do crime

Após uma série de investigações e reviravoltas, o caso apresentou novos desdobramentos em 2024 com a prisão dos supostos mandantes do crime: os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio na época, delegado Rivaldo Barbosa. A investigação chegou a essa conclusão através de uma delação premiada de Ronnie Lessa, réu confesso de realizar os disparos. A ação contra os supostos mandantes, porém, tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Depoimentos dos suspeitos de serem mandantes

No dia 24 de outubro, Rivaldo Barbosa prestou depoimento virtual ao STF, negando qualquer participação no crime e alegando: “Eu não mato nem uma formiga, vou matar uma pessoa?”. Ele afirmou ter sido apresentado a Marielle Franco por Marcelo Freixo, ex-deputado estadual e ex-superior de Marielle na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ressaltando que sua atuação em direitos humanos facilitava o contato entre ele e Freixo para apoiar familiares de vítimas de violência.

No dia 22 de outubro, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), depôs ao STF também negando qualquer envolvimento e contato com Ronnie Lessa. Ele sugeriu que Lessa o incriminou para se beneficiar com a delação premiada, aproveitando-se de notícias que ligaram os Brazão ao crime: “Foi uma oportunidade que Lessa teve de ganhar os benefícios [da delação]. Um homicida, um homem louco que nunca demonstrou piedade pelo que fez", declarou Domingos Brazão.

Chiquinho Brazão, irmão de Domingos e deputado federal, depôs em 21 de outubro. Preso em Campo Grande, ele negou ter tido qualquer tipo de contato com Lessa, apesar de reconhecer que Lessa poderia conhecê-lo publicamente: “Não tenho dúvida de que ele poderia me conhecer, mas eu não tenho lembrança de ter estado com essa pessoa”, afirmou. Chiquinho disse ainda que tinha uma “excelente” relação com Marielle e que ela possuía um “futuro brilhante”.

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