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Consumo de álcool despenca entre jovens e impulsiona mercado de bebidas sem álcool
Geração Z reduz ingestão de álcool por bem-estar e saúde, enquanto cervejas zero e drinks sofisticados ganham espaço nos bares brasileiros.
30/10/2025 às 08:09por Redação Plox
30/10/2025 às 08:09
— por Redação Plox
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Segundo pesquisa do Datafolha, 53% dos brasileiros consumidores de bebidas alcoólicas reduziram o consumo no último ano. O levantamento ouviu 1.912 pessoas de vários perfis. Entre os jovens da geração Z (18 a 26 anos), a mudança é ainda mais decisiva. Apenas 45% dizem consumir bebidas alcoólicas, número inferior ao observado entre Millennials (57%), geração X (67%) e Boomers (65%), segundo pesquisa da MindMiners com 3 mil entrevistados.
Pink limonade sem álcool
Foto: Reprodução
Gabrielle Ribeiro tomou uma decisão radical aos 23 anos: retirou todas as bebidas alcoólicas de casa e abandonou completamente o consumo. A influenciadora digital passou a trocar festas por noites bem dormidas, ressacas por trilhas e copos de drinks por suplementos. A mudança de estilo de vida trouxe resultados expressivos: ela perdeu 16 quilos, economizou até R$ 300 por semana e conquistou milhares de novos seguidores ao compartilhar seu processo nas redes sociais.
Parar de beber foi a melhor coisa que eu fiz por mim. É mais interessante acordar no domingo e postar foto de uma medalha de corrida do que ficar com aquela ressaca moral – Gabrielle Ribeiro
Gabrielle integra um grupo crescente de brasileiros que têm mudado a relação com o álcool.
Gabrielle Ribeiro optou por interromper o consumo de bebidas alcoólicas há quase um ano, visando melhorar sua saúde
Foto: Gabrielle Ribeiro
Mudança de comportamento e busca por bem-estar
Diversos fatores impulsionam essa nova relação com o álcool. O bem-estar, a estabilidade emocional e o controle financeiro estão entre as principais razões apontadas. Nem todos, porém, passaram por uma ruptura como a de Gabrielle. Para alguns, o álcool nunca foi atrativo.
Mercado de bebidas sem álcool em ascensão
Entre 2020 e 2023, o consumo de cerveja sem álcool no Brasil cresceu mais de 200%, saltando de 197,8 milhões para 649,9 milhões de litros, segundo dados da Euromonitor. A expectativa é de que o volume se aproxime de 1 bilhão de litros em 2025. Atualmente, o Brasil ocupa a segunda posição entre os maiores mercados mundiais de cerveja zero, de acordo com a World Brewing Alliance.
O novo perfil do consumidor favorece a moderação e incentiva a experimentação. Mesmo quem mantém o consumo de álcool, tende a fazê-lo de forma mais criteriosa e com foco na qualidade, o que também movimenta o segmento de rótulos premium.
Maurício Porto, proprietário do bar Caledonia e especialista em uísques e coquetelaria, relata aumento significativo na procura por drinks sem álcool, a ponto de o estoque se esgotar em alguns dias. A casa oferece cinco opções de coquetéis sem álcool, preparados com técnicas avançadas, como infusão de especiarias e clarificação, conferindo aos mocktails um padrão semelhante ao dos tradicionais.
Hoje, eu vejo efetivamente que os coquetéis sem álcool saem (...) as pessoas tinham preconceito e passaram a perder. A qualidade dos coquetéis sem álcool melhorou muito – Maurício Porto
Indústria reage à demanda por bebidas zero álcool
Com o interesse crescente, grandes empresas do setor também se adaptam. Segundo a Ambev, marcas como Bud Zero, Corona Cero e Stella Pure Gold ganham cada vez mais espaço, e a expectativa é de que o segmento cresça até cinco vezes mais rápido que o das cervejas tradicionais até 2028. A Diageo, empresa global de destilados premium, reforçou investimentos em marcas como Seedlip, Ritual Zero Proof e versões 0.0 de clássicos do mercado, como Guinness e Tanqueray.
Não é sobre beber mais, mas sobre beber melhor – Guilherme Martins, vice-presidente de marketing e insight da Diageo no Brasil
Essas transformações sinalizam que o setor vive um período de renovação e inovação, impulsionado pelo novo comportamento do consumidor, que abre espaço para qualidade e experiências diferenciadas.
Por que os jovens estão bebendo menos?
O álcool perdeu o papel de símbolo de status entre jovens da geração Z. Para muitos, as prioridades estão voltadas para saúde física e mental, experiências enriquecedoras e equilíbrio financeiro. Entre os que não bebem, 58% simplesmente não têm interesse, 34% não gostam do sabor, 30% desejam evitar os efeitos adversos e 19% buscam qualidade de vida. Razões religiosas também aparecem, citadas por 17%.
Questões econômicas ganham peso nesse contexto. Jovens da geração Z possuem menor renda disponível, o que impacta tanto a frequência quanto o volume de consumo. Segundo pesquisa da MindMiners, frases como "estou gastando muito dinheiro" e "menos gasto com bebidas" recorrentes entre os que desejam consumir menos.
O preço é apontado como barreira até para a categoria de cerveja sem álcool, reforçando que valores podem limitar o acesso, especialmente entre consumidores da classe C.
Entre crise e oportunidade: a reconfiguração do mercado
A diminuição no consumo não ameaça a indústria de bebidas, mas representa uma oportunidade de reinvenção. Dados da Nielsen mostram que a cerveja sem álcool cresce três vezes mais que a tradicional. Mesmo entre quem consome álcool, 41% relataram ter mudado a frequência de consumo no último ano e 43% pretendem reduzir ainda mais, motivados principalmente por saúde e economia.
Uma tendência citada por especialistas é o chamado "zebra stripe", prática em que o consumidor alterna entre bebidas alcoólicas e não alcoólicas na mesma ocasião. Especialistas explicam que isso permite prolongar o tempo de socialização sem perder o controle, reforçando a ideia de equilíbrio e moderação.
Aliado à moderação, está o interesse crescente por bebidas premium, que oferecem sofisticação, sabor e experiência sensorial diferenciada. Maurício Porto aponta que, atualmente, o prazer está cada vez mais na experimentação e no refinamento do paladar, que transformam o ato de beber em um verdadeiro hobby.
A busca por rótulos premium, como os uísques single malt (que cresceram 10% nos últimos três anos), mostra que o prazer está menos na embriaguez e mais na descoberta sensorial, se tornando até mesmo um hobby – Maurício Porto
Estratégias das empresas diante da moderação
A Ambev, maior cervejaria do país, ampliou seu portfólio de produtos com teor alcoólico reduzido e aposta no crescimento das cervejas zero álcool.
Antigamente, as pessoas tomavam cerveja zero por restrição; hoje elas escolhem tomar por opção – Castro, diretor de estratégia e insights da Ambev
Exemplo disso é o lançamento da Corona Cero no Brasil, a primeira cerveja do mundo com infusão de vitamina D e apenas 51 calorias – alinhando sabor e tendência de produtos voltados ao bem-estar. Outras marcas da empresa, como Bud Zero e Stella Pure Gold, também ganham projeção estratégica para os próximos anos.
A Diageo, por sua vez, reforçou sua presença no segmento ao adquirir a marca de bebidas sem álcool Ritual Zero Proof. No Brasil, a aposta é em versões 0.0 de marcas já conhecidas, devido à preferência do consumidor nacional por experiências familiares. Um dos destaques foi o lançamento da Tanqueray 0.0%, que oferece os mesmos botânicos do gin tradicional, porém sem álcool.
Além de investir em produtos, a empresa também foca em formação profissional e no desenvolvimento de cardápios inovadores para bares. Isso reflete a preocupação em atender a um público que busca complexidade no sabor, mesmo em bebidas sem álcool.
Bares apostam em inovação e experiência
No bar Caledonia, a transformação acompanha as tendências de mercado. Especializado originalmente em uísques, o local se reinventou para atender a crescente demanda por coquetéis sem álcool. Técnicas como clarificação, infusão de especiarias e uso de ingredientes sofisticados conferem complexidade aos mocktails, que fogem do estereótipo de bebida apenas doce.
Não é porque ele é um drink não alcoólico que ele tem que ser um negócio doce de grudar o paladar. Paladar infantil e não alcoólico não são a mesma coisa – Maurício Porto
A evolução do cardápio começou com o Ginger Lemonade, inspirado no clássico Dark & Stormy, e ganhou reforço com criações premiadas e novos sabores. Em 2023 e 2024, quatro novos coquetéis sem álcool foram incorporados ao menu, refletindo a diversidade de consumo. Há dias em que o estoque simplesmente se esgota, como aconteceu com o "Oliver Twist", que vendeu 50 unidades em um único dia.
Para Maurício, o movimento vai além da abstinência: representa uma escolha consciente por beber menos, mas melhor. O desafio, segundo ele, é criar experiências ricas em sabor e complexidade, que valorizem o ato de beber como uma descoberta.
Você não tá bebendo pra ficar doidão. Você tá bebendo pra entender um negócio, pra descobrir – Maurício Porto