Economia

Correios vão fechar mil agências e realizar 15 mil demissões até 2027 para reduzir rombo bilionário

Plano de reestruturação prevê economia de R$ 2,1 bilhões com fechamento de unidades, corte de R$ 5 bilhões em despesas até 2028, redução de gastos com pessoal e planos de saúde, além de possível abertura de capital a partir de 2027

30/12/2025 às 08:44 por Redação Plox

Os Correios anunciaram um amplo plano de reestruturação para reduzir os déficits acumulados desde 2022, que prevê o fechamento de cerca de mil agências próprias em todo o país — o equivalente a 16% das 6 mil unidades atualmente em operação. A medida integra um esforço mais amplo de enxugamento de despesas e de redesenho da presença da estatal no território nacional.

Plano foi apresentado para reduzir déficits da estatal.

Plano foi apresentado para reduzir déficits da estatal.

Foto: Reprodução / Agência Brasil.


Fechamento de agências e universalização do serviço

A empresa calcula economizar R$ 2,1 bilhões com o encerramento dessas unidades. Somadas aos pontos de atendimento mantidos por meio de parcerias, os Correios contam hoje com cerca de 10 mil locais de prestação de serviços no Brasil.

Como a estatal é obrigada a atender todo o território nacional, a direção afirma que o redesenho da rede física será feito com cuidado, de forma a não ferir o princípio da universalização do serviço postal.

A gente vai fazer a ponderação entre resultado [financeiro das agências] e o cumprimento da universalização para a gente não ferir a universalização ao fecharmos pontos de venda da empresa

presidente dos Correios, Emmanoel Rondon

O plano divulgado prevê ainda cortes de despesas da ordem de R$ 5 bilhões até 2028, combinando venda de imóveis e dois planos de demissão voluntária (PDVs) para enxugar o quadro de pessoal.

Demissão voluntária e redução de custos

A meta é reduzir em 15 mil o número de funcionários até 2027, por meio de dois PDVs — um a ser implementado em 2026 e outro previsto para 2027. Segundo a direção, cerca de 90% das despesas da estatal têm perfil de custo fixo, o que limita a capacidade de ajustes rápidos diante das mudanças no mercado.


Esse plano de reestruturação era aguardado em razão dos sucessivos resultados negativos registrados desde 2022. De acordo com a estatal, há um déficit estrutural anual de R$ 4 bilhões, associado ao cumprimento da regra de universalização. Em 2025, os Correios acumulam saldo negativo de R$ 6 bilhões nos nove primeiros meses do ano e um patrimônio líquido negativo de R$ 10,4 bilhões.

Empréstimos e possibilidade de abrir o capital

Para reforçar o caixa, a companhia contratou um empréstimo de R$ 12 bilhões junto a bancos, assinado na última sexta-feira (26). A direção ainda busca outras fontes de recursos para levantar mais R$ 8 bilhões, valor considerado necessário para equilibrar as contas em 2026.


A partir de 2027, a estatal estuda uma mudança societária. Hoje 100% pública, a empresa avalia a possibilidade de abrir seu capital e ser transformada em companhia de economia mista, modelo semelhante ao adotado por empresas como Petrobras e Banco do Brasil.

Corte de pessoal, planos de saúde e previdência

Além dos PDVs, o plano dos Correios mira diretamente os custos com benefícios. Os planos de saúde e de previdência dos empregados devem sofrer cortes nos aportes realizados pela estatal, que considera esse conjunto de despesas financeiramente insustentável no formato atual.


Com as demissões voluntárias e o enxugamento dos benefícios, a empresa projeta reduzir R$ 2,1 bilhões por ano em gastos com pessoal. O plano também prevê a venda de imóveis para gerar cerca de R$ 1,5 bilhão em receitas extras.


Segundo a direção, o pacote de medidas não se limita ao ajuste de caixa, mas pretende reforçar o papel dos Correios como ativo estratégico do Estado brasileiro, responsável por integrar o território nacional e garantir acesso igualitário a serviços logísticos, inclusive em áreas onde empresas privadas não atuam.

Crise estrutural e concorrência no setor postal

Os Correios atribuem a crise financeira a um processo que se arrasta desde 2016, impulsionado pela digitalização das comunicações, que reduziu drasticamente o envio de cartas — por muitos anos a principal fonte de receita da empresa.

A entrada de novos competidores no comércio eletrônico é outro fator apontado pela estatal como pressão adicional sobre o seu modelo de negócios, em um ambiente de disputa crescente pelo mercado de entregas.


De acordo com a direção, essa transformação não é exclusiva do Brasil, mas parte de um movimento global. A estatal lembra que diversas empresas de correios no mundo ainda registram prejuízos e cita como exemplo a empresa pública de correios dos Estados Unidos (United States Postal Service – USPS), que vem reportando perdas bilionárias e também anunciou medidas para enfrentar seus déficits financeiros.

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