Lira defende reforma ministerial, mas alerta que mudança não garantirá sucesso do governo Lula

Presidente da Câmara critica articulação política e sugere ajustes estruturais para fortalecer base governista

Por Plox

31/01/2025 10h47 - Atualizado há 8 dias

A um dia de deixar a presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) voltou a tecer críticas à articulação política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira (31), Lira afirmou que uma reforma ministerial é necessária, mas que trocar cargos no alto escalão não será suficiente para resolver os problemas enfrentados pelo governo.

Críticas à articulação política

Segundo Lira, a organização original do governo Lula, estruturada no final de 2022, favoreceu mais o Senado do que a Câmara. No entanto, na prática, a Câmara votou mais alinhada com o governo do que os senadores. Ele destacou que há partidos com menor representação no ministério, mas que entregam mais votos ao governo, algo que precisa ser corrigido.

"Existem partidos que estão menos representados e dão mais votos. O governo deve ajustar isso, se entender que é a maneira de conseguir apoios. Deve haver arrumação de baixo para cima. Só em cima, não salvará, não resolverá. O Lula é um animal político muito experiente, mas não pode estar na linha de batalha. Tem que ter gente brigando", afirmou Lira.

Mudanças precisam ser estruturais

O presidente da Câmara defendeu que qualquer mudança na estrutura do governo deve começar "do primeiro andar para a cobertura", destacando que o foco inicial precisa estar na economia e na percepção popular sobre emprego e inflação.

"O primeiro andar é a economia, emprego, inflação. É o sentimento popular, se há alguma coisa melhorando a vida. Depois (no segundo andar) tem a credibilidade política. O governo está com déficit, com dificuldades no Parlamento, na relação institucional. É preciso solucionar", pontuou.

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Lira também criticou a falta de sintonia dentro do próprio governo, mencionando um “desencontro” entre diferentes áreas da administração federal. A articulação política do governo, comandada pelo ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), tem sido alvo de desentendimentos com Lira nos últimos meses.

Futuro político e eleições de 2026

Questionado sobre uma possível nomeação para um ministério no governo Lula, Lira desconversou. Seu nome tem sido cogitado para comandar o Ministério da Agricultura, mas ele negou qualquer negociação nesse sentido.

"Eu não falo sobre conjecturas. O ‘se’ não existe. Nunca tive conversas com Lula sobre ministério, nem com nenhum membro do governo", disse.

Sobre as eleições presidenciais de 2026, Lira afirmou que Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são, no momento, os únicos candidatos viáveis da esquerda e da direita. Ele também ressaltou que a inelegibilidade de Bolsonaro não impede sua influência política, comparando a situação com a de Lula em 2018.

"É assim que vejo. Bolsonaro está tão inelegível quanto Lula esteve preso em 2018. A nossa Constituição traz brechas para isso. A decisão de apoiar um ou outro precisa ser muito amadurecida", avaliou.

Lira também indicou que pode concorrer a uma vaga no Senado ou disputar um cargo no Executivo de Alagoas nas próximas eleições.

Disputa por emendas parlamentares

Outro tema abordado por Lira foi a polêmica em torno das emendas parlamentares, que nos últimos meses foram alvo de decisões judiciais travando seus pagamentos. O presidente da Câmara classificou a situação como uma "disputa de poder" e disse que o debate sobre o tema continuará por algum tempo.

Ele negou que as emendas tenham sido usadas de forma secreta e defendeu a prerrogativa dos parlamentares de indicá-las. "Não se pode criminalizar a indicação parlamentar", afirmou.

Caso Chiquinho Brazão

Ao comentar o andamento do processo de cassação do deputado Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ), Lira declarou que "não houve motivo específico" para a demora na tramitação, mas garantiu que o caso será levado ao plenário em breve.

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