Mercado de calçados no Brasil pode perder 8 mil empregos após nova tarifa dos EUA
Calçados ficam fora da isenção americana e setor teme desemprego em massa; Minas prevê impacto indireto com maior concorrência interna
Por Plox
31/07/2025 11h13 - Atualizado há 2 dias
Um decreto assinado nesta quinta-feira (30) pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendeu a tensão no setor calçadista brasileiro. O tarifaço norte-americano impôs uma taxa de importação de 50% sobre diversos produtos estrangeiros e, embora 694 itens brasileiros tenham sido isentados, os calçados ficaram de fora da lista, o que acendeu o alerta para um possível corte de até 8 mil empregos no Brasil.

Segundo projeções da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o impacto será profundo em fábricas que operam voltadas exclusivamente para o mercado externo, hoje ameaçadas pela concorrência de países como a China — cujos produtos enfrentam tarifa menor, de 30%, tornando-se mais competitivos frente aos brasileiros.
No primeiro semestre de 2025, o setor vinha em expansão: 5,8 milhões de pares foram exportados para os Estados Unidos, um aumento de 13,5% em relação ao mesmo período de 2024. Esse volume gerou US$ 111,8 milhões, consolidando os EUA como destino de um quinto de toda a exportação calçadista nacional.
A Abicalçados cobra agora uma reação urgente por parte do governo federal e dos estados. Entre as medidas sugeridas estão a criação de linhas de crédito específicas para o setor e a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), utilizado durante a pandemia para mitigar demissões em massa.
O Rio Grande do Sul, estado que concentra a maior parte das indústrias calçadistas do país, anunciou a liberação de R$ 100 milhões em crédito para auxiliar empresas afetadas pela nova tarifa. A movimentação local tenta conter os impactos imediatos e evitar o fechamento de unidades produtivas.
Em Minas Gerais, embora o estado não esteja entre os principais exportadores de calçados, a repercussão do tarifaço pode ser sentida de forma indireta. Isso porque a retração do mercado externo deve levar as empresas gaúchas a buscar saída no mercado interno, aumentando a competição interestadual.
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados, Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), Luiz Barcelos, esse deslocamento comercial pode gerar desequilíbrio na concorrência. “Eles terão que escoar a produção para algum lugar e, aí, haverá um desequilíbrio no mercado e, consequentemente, isso afetará as empresas em Minas”, afirmou.
Com a pressão vinda de vários lados, o setor aguarda agora um posicionamento oficial do governo federal para conter os danos provocados pela nova política comercial dos Estados Unidos.