Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz são condenados pelo assassinato de Marielle Franco
Ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, que confessaram o assassinato da vereadora e de seu motorista, recebem penas elevadas; processo agora se volta para julgamento dos mandantes
Por Plox
31/10/2024 18h44 - Atualizado há 7 dias
Mais de seis anos após o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, nesta quinta-feira (31/10). A sentença, lida em um tribunal repleto de familiares e amigos das vítimas, trouxe à tona emoções intensas para os presentes.
Ronnie Lessa, autor dos disparos, foi condenado a 78 anos e 9 meses de prisão. Já Élcio Queiroz, motorista do veículo usado no crime, recebeu a pena de 59 anos e 8 meses.
Os pais de Marielle, Marinete e Antônio, sua filha Luyara e as viúvas das vítimas, Mônica Benício e Ágatha Reis, mostraram-se profundamente comovidos durante o anúncio das sentenças. Emocionados, abraçaram-se e aplaudiram o veredicto, encerrando um capítulo doloroso e demorado na busca por justiça.
Crimes e motivações
Lessa e Queiroz foram formalmente condenados por duplo homicídio triplamente qualificado, por emboscada, motivo torpe e uso de recurso que impediu a defesa das vítimas, além de tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle e única sobrevivente do atentado. Os dois também foram condenados por receptação de um veículo Cobalt prata, clonado, usado na ação criminosa.
Julgamento marcado por declarações frias
O julgamento teve início na quarta-feira (30), contando com a presença de familiares das vítimas, entre eles Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial, que acompanhou os depoimentos ao lado de Luyara, filha da vereadora. Na audiência, Lessa descreveu os detalhes do crime, admitindo que disparou contra o veículo onde estava Marielle e Anderson, sem qualquer demonstração de remorso, fato que abalou profundamente os familiares presentes.
Em depoimento, Élcio Queiroz afirmou não conhecer Marielle antes da ação e disse que, até o momento do atentado, não sabia que participaria de um homicídio. Alegou que apenas foi chamado por Lessa para um “trabalho”, acreditando se tratar de uma tarefa comum.
Acordo de delação premiada e redução de pena
Apesar das longas sentenças, os réus podem passar menos tempo na prisão graças a um acordo de delação premiada, firmado com o Ministério Público para ajudar na investigação dos mandantes do crime. Esse acordo prevê que Élcio cumpra no máximo 12 anos em regime fechado, enquanto Lessa pode ser liberado para o regime semiaberto em até 18 anos, com a possibilidade de total liberdade em 2039. O período já cumprido, desde a prisão em março de 2019, será descontado, o que significa que ambos poderiam deixar a cadeia em 2031 e 2037, respectivamente.
Investigação sobre os mandantes avança no STF
O caso segue sob análise da Suprema Corte para determinar os mandantes do crime. O Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a denúncia contra Domingos Brazão, seu irmão Chiquinho Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, entre outros suspeitos. A relatoria do caso ficou a cargo do ministro Alexandre de Moraes, que deve supervisionar o andamento da ação penal contra os supostos mandantes.
Testemunhas e provas no tribunal
O julgamento das figuras executoras, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, estendeu-se por horas, e entre as testemunhas ouvidas estiveram Fernanda Chaves, sobrevivente do ataque, Marinete Silva (mãe de Marielle), Mônica Benício e Ágatha Reis. Em seu depoimento, Fernanda Chaves relatou os momentos de pavor que viveu ao lado de Marielle e Anderson durante o ataque: “Houve a rajada, eu percebi que o Anderson esboçou dor (...) Marielle estava imóvel (...) A minha vida mudou completamente”.
Além disso, provas apresentadas pelo Ministério Público incluíram o histórico de buscas de Lessa, que incluía pesquisas por armas e pelo nome de Marcelo Freixo, ex-deputado estadual do Rio e aliado de Marielle, o que reforçou as suspeitas de motivações criminosas.
Argumentação das defesas e veredito
Durante o julgamento, a defesa dos acusados alegou que a confissão de Lessa foi um fator determinante para a solução do caso, pedindo uma revisão nas penas. O advogado de Lessa afirmou que, apesar do crime ter tido motivações financeiras e não políticas, o acusado deveria ser responsabilizado de forma justa.
Após dois dias de audiência, a juíza Lúcia Glioche deu início à deliberação com um júri popular composto exclusivamente por homens brancos, situação que gerou controvérsia. A defesa utilizou uma prerrogativa para dispensar as duas mulheres sorteadas inicialmente, resultando na configuração final do júri.