Saúde

Estudo revela alta ligação entre ansiedade e dor no peito em emergências

Pesquisa internacional destaca que até 42% dos pacientes de baixo risco apresentam ansiedade grave, enquanto especialistas brasileiros reforçam importância do diagnóstico psicológico diante do aumento de casos após a pandemia.

31/10/2025 às 09:39 por Redação Plox

A dor no peito é uma das principais causas de atendimento em prontos-socorros, mas nem sempre está relacionada a problemas cardíacos. Um estudo conduzido nos Estados Unidos, publicado na revista Academic Emergency Medicine, aponta que muitos desses casos têm origem na ansiedade.

Ansiedade é fator relevante nos atendimentos emergenciais

Na análise de 375 pacientes com dor torácica de baixo risco, 42% apresentaram quadros graves de ansiedade. A maioria dos participantes do estudo também apresentava outras condições psicológicas tratáveis, como depressão, somatização — quando há manifestação física do sofrimento psicológico —, transtorno de pânico, baixa autoeficácia, transtorno de estresse pós-traumático e dificuldade de exercer atividades cotidianas.

De acordo com os autores, a identificação e o tratamento adequado dessas condições permitem o desenvolvimento de estratégias de acompanhamento mais direcionadas e eficazes. Isso visa diminuir as idas desnecessárias ao pronto atendimento.


A dor no peito é um dos principais motivos de busca por atendimento nas emergências, porém, muitos casos não estão associados a problemas cardíacos. Um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado em agosto na revista Academic Emergency Medicine revela que a ansiedade é uma causa significativa desses episódios.

A pesquisa examinou 375 pacientes com dor torácica de baixo risco e constatou que 42% apresentavam níveis graves de ansiedade. A maioria também tinha outras comorbidades psicológicas tratáveis, como depressão, somatização (manifestação de sofrimento psicológico através de sintomas físicos), transtorno do pânico, baixa autoeficácia (quando a pessoa não acredita conseguir lidar com situações difíceis, o que pode aumentar a ansiedade), transtorno de estresse pós-traumático e dificuldades funcionais, que afetam a capacidade de trabalhar, cuidar da família e manter uma vida social ativa.

De acordo com os pesquisadores, ao identificar e tratar essas condições corretamente, é possível desenvolver estratégias de acompanhamento mais eficazes, reduzindo assim o número de retornos desnecessários ao pronto-socorro.

Na visão da cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, esses dados representam a realidade clínica. “Cerca de um terço dos pacientes que chega à sala de emergência com dor de baixo risco apresenta um quadro de ansiedade associado”, explica. “A ansiedade é uma das principais causas de dor torácica não cardíaca e frequentemente constitui um dos diagnósticos mais comuns após a exclusão de problemas cardíacos.”

Sintomas semelhantes

Um quadro de ansiedade ou uma crise de pânico provoca reações no organismo que resultam na liberação de adrenalina e cortisona, levando a sintomas como taquicardia, dor no peito (a adrenalina aumenta a tensão na parede torácica) e até espasmos musculares.

“A liberação de adrenalina também acelera a respiração, causando uma sensação de desconforto e falta de ar. Os sintomas físicos gerados pela ansiedade são reais e intensos, portanto, podem parecer muito semelhantes aos de uma condição cardíaca”, esclarece Soares.

Apesar de sua alta incidência, a identificação da ansiedade nas emergências ainda é limitada. “Ferramentas para detectar a ansiedade são raramente utilizadas em salas de emergência”, observa a cardiologista. A prioridade sempre é descartar condições cardíacas que apresentam risco à vida, por meio de avaliação clínica, exames laboratoriais e eletrocardiograma. Somente após a exclusão dessas possibilidades é que a ansiedade pode ser considerada a causa da dor.

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior índice de ansiedade no mundo, e houve um aumento dos casos dessa condição durante a pandemia da Covid-19. Além de afetar adultos, a ansiedade também pode se manifestar em crianças por diversos motivos, como divórcios, provas escolares ou dificuldades na escola.

Embora seja considerada relativamente comum, pois pode acometer qualquer pessoa por diferentes razões, a ansiedade se torna um grande problema quando gera preocupação excessiva e crises. As crises de ansiedade provocam intensa sensação de angústia, nervosismo e insegurança, como se algo terrível e incontrolável estivesse prestes a acontecer.

Essas crises geralmente surgem em situações estressantes, que atuam como gatilhos, como apresentações, cumprimentos de prazos ou perdas.

Os sintomas de uma crise de ansiedade incluem batimentos cardíacos acelerados, sensação de falta de ar, formigamento, leveza na cabeça, dor no peito, náuseas, sudorese excessiva e tremores.

Embora os sintomas possam se sobrepor, diversos sinais ajudam a diferenciar dor cardíaca de dor associada à ansiedade. Características como dor em aperto, pressão ou peso estão geralmente ligadas a problemas cardíacos; enquanto dores em pontada, difusas ou de localização indefinida costumam estar mais relacionadas à ansiedade.

Adicionalmente, a dor cardíaca frequentemente se concentra no retroesterno, enquanto a dor de origem ansiosa aparece mais ao centro do peito. “Dor cardíaca é geralmente desencadeada por esforço físico ou estresse emocional; já a dor associada à ansiedade não tem uma relação clara com um gatilho específico”, afirma Juliana Soares.

Episódios recorrentes

O estudo indicou que os casos de pacientes com dor torácica de baixo risco e ansiedade não costumam ser isolados. Dois terços dos participantes relataram episódios semanais ou diários de dor no peito, sugerindo que apenas descartar a possibilidade de origem cardíaca não é suficiente.

Acompanhamento ambulatorial, tratamento psicológico e, quando necessário, uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos são estratégias que podem ajudar a reduzir o sofrimento e prevenir complicações emocionais.

“É essencial que haja um encaminhamento ativo, orientando o paciente já no atendimento de emergência e direcionando-o a um profissional capacitado para conduzir o tratamento psicológico ou psiquiátrico”, observa a médica do Einstein. “O fundamental é avaliar o paciente de forma integral. Aqueles com múltiplas condições psicológicas necessitam de uma avaliação holística, já que esses fatores estão conectados e afetam diretamente a recorrência da dor e a qualidade de vida.”

A pesquisa examinou 375 pacientes com dor torácica de baixo risco e constatou que 42% apresentavam níveis graves de ansiedade.

Foto: Reprodução

Quadro se reflete nos hospitais brasileiros

Segundo a cardiologista Juliana Soares, do Einstein Hospital Israelita, a experiência vivida no setor de emergência confirma os achados científicos. Ela afirma que cerca de um terço dos pacientes com dor torácica considerada de baixo risco apresenta associação com ansiedade.

A ansiedade está entre as principais causas de dor no peito sem origem cardíaca e é frequentemente diagnosticada após a exclusão de problemas no coração.

Semelhança dos sintomas pode confundir

Tanto a ansiedade quanto o pânico desencadeiam mecanismos físicos no corpo que aumentam a produção de adrenalina e cortisona. Esses hormônios podem provocar taquicardia, dor no peito devido à tensão muscular, espasmos ou pequenas contrações.

A liberação de adrenalina também faz com que nossa respiração fique mais rápida e isso causa uma sensação de desconforto e falta de ar. A ansiedade gera sintomas físicos que são reais e intensos, por isso eles podem simular e parecer muito com um quadro de origem cardiológica – Juliana Soares

Apesar da frequência desses episódios, o reconhecimento da ansiedade no ambiente de pronto-socorro ainda é insuficiente. A cardiologista destaca que instrumentos para identificação de quadros ansiosos são pouco empregados nesses atendimentos. A prioridade inicial é descartar causas cardíacas graves com exames clínicos e laboratoriais. Apenas após essa exclusão a ansiedade é considerada como possível causa da dor.

Brasil lidera índices de ansiedade segundo a OMS

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. O número de casos aumentou durante a pandemia de Covid-19. Além dos adultos, crianças também são afetadas, seja devido a questões familiares, provas ou dificuldades escolares.

A ansiedade pode atingir qualquer pessoa por diversos motivos, mas se torna problemática quando causa preocupação exagerada e episódios recorrentes. Nessas situações, crises com sintomas como angústia, nervosismo, insegurança e sensação de iminente perda de controle são comuns.

Os gatilhos para uma crise incluem, por exemplo, apresentações, prazos apertados, ambientes desconfortáveis ou vivências de perdas. Os sintomas mais relatados são batimentos cardíacos acelerados, sensação de falta de ar, formigamentos, leveza na cabeça, dor no peito, náuseas e tremores.

Como diferenciar os tipos de dor no peito

Embora possam ser semelhantes, algumas características diferenciam a dor cardíaca da dor provocada pela ansiedade. Dor em aperto, pressão ou peso geralmente indica origem cardíaca, enquanto dor em pontada, mais vaga ou difusa, tende a ser reflexo de ansiedade.

Outro critério avaliativo é a localização: dores cardíacas costumam se concentrar atrás do osso do peito, enquanto a dor associada à ansiedade aparece mais no centro do peito. Segundo a médica, a dor cardíaca é desencadeada por esforço físico ou estresse emocional, já a dor relacionada à ansiedade não segue um padrão definido.

Episódios recorrentes exigem acompanhamento

O levantamento mostrou que, em muitos casos, a dor torácica associada à ansiedade não é um episódio isolado. Dois terços dos pacientes relatam frequência semanal ou diária da dor, reforçando que apenas descartar a origem cardíaca não resolve o problema.

O acompanhamento em ambulatório, o tratamento psicológico e, quando indicado, o uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos são estratégias recomendadas para reduzir o sofrimento e evitar complicações emocionais.

É fundamental fazermos o encaminhamento ativo, ou seja, que o paciente seja orientado ainda no atendimento de emergência e encaminhado para um profissional habilitado a conduzir tratamento psicológico ou psiquiátrico. O importante é avaliar o paciente todo. Aqueles com múltiplas condições psicológicas precisam de avaliação holística, pois esses fatores estão interligados e influenciam diretamente a recorrência da dor e na qualidade de vida – Juliana Soares

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