Saúde

Estudo revela que terapia de R$ 3 milhões oferece melhor custo-benefício no tratamento do câncer

Pesquisa brasileira mostra que aplicação precoce da CAR-T pode economizar até R$ 1,3 milhão por paciente e alcançar taxas de cura acima de 50%, apesar do acesso restrito e custo elevado.

31/10/2025 às 10:43 por Redação Plox

O tratamento conhecido como terapia celular CAR-T, com custo que pode chegar a R$ 3 milhões por paciente, é visto com desconfiança devido ao alto preço. No entanto, uma nova pesquisa aponta que o investimento inicial elevado pode significar economia futura e melhores perspectivas de cura em certos casos.

Pesquisa indica que tratamento de R$ 3 milhões apresenta superior custo-benefício na luta contra o câncer

Pesquisa indica que tratamento de R$ 3 milhões apresenta superior custo-benefício na luta contra o câncer

Foto: Divulgação

Estudo avalia impacto clínico e financeiro

O estudo, liderado pelo médico Samir Nabhan, supervisor de Transplante de Medula Óssea, Oncologia e Hematologia do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi apresentado no Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Publicado no Journal of Medical Economics, o levantamento analisou o impacto tanto financeiro quanto clínico da terapia CAR-T em pacientes com linfoma difuso de grandes células B, o tipo mais agressivo e comum de linfoma não Hodgkin.

Apesar dos resultados promissores, esta tecnologia ainda não é oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, ela está limitada a alguns centros privados credenciados, sendo custeada por planos de saúde ou recursos particulares.

Essas terapias são caras, mas se você usa precocemente, evita gastar ainda mais nas terapias subsequentes. Cada recidiva encarece o tratamento e reduz as chances de cura. – Samir Nabhan

Como funcionam as linhas de tratamento

Na oncologia, linhas de tratamento determinam a sequência das terapias conforme a evolução da doença. No caso do linfoma difuso de grandes células B, a primeira linha abrange a combinação de quimioterapia e imunoterapia, conhecida como R-CHOP. Se houver recaída do câncer, aplica-se a segunda linha, geralmente com quimioterapia mais intensa ou transplante autólogo de medula. Nova recidiva leva à terceira linha, que abrange terapias mais modernas, como a CAR-T e os anticorpos biespecíficos.

O estudo de Nabhan sugere inverter o raciocínio usual, indicando que o uso precoce de tratamentos avançados pode reduzir custos e aumentar as chances de cura.

O que é a terapia CAR-T

A terapia celular CAR-T consiste em uma forma avançada e personalizada de imunoterapia. Nela, os linfócitos T, células de defesa do paciente, são removidos de seu sangue, geneticamente modificados em laboratório para atacar o câncer e infundidos novamente no organismo.

É como se as células ganhassem um novo receptor, uma espécie de chave para encontrar e destruir as células doentes. – Ana Rita Fonseca

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já aprovou a tecnologia para tratamento de linfomas e leucemias resistentes a outras terapias. Entre os produtos disponíveis estão o axi-cel, tisa-cel e cilta-cel, este último usado para mieloma múltiplo.

Uso precoce pode garantir economia

O levantamento comparou a CAR-T com outros tratamentos como epcoritamab (anticorpo biespecífico), quimioterapia e transplante. Embora envolva investimento inicial maior, a CAR-T mostrou melhor relação custo-benefício, sobretudo se aplicada já na segunda ou terceira linha de tratamento.

Dentre os principais resultados do estudo:

  • Quando usada antes do epcoritamab, a CAR-T gerou economia média de R$ 194 mil por paciente.
  • Na segunda linha, a economia chega a R$ 1,3 milhão por paciente.
  • Menos pacientes precisaram recorrer a novas terapias, resultando em redução tanto nas internações quanto nos custos globais.
Investir cedo traz retorno econômico e clínico. É o tipo de decisão que se paga com o tempo. – Samir Nabhan

Diversidade no custo da saúde privada

Este é o primeiro estudo adaptado à lógica de custos do setor privado brasileiro, marcado por pagadores múltiplos e preços variados conforme estado e operadora. Foram usados dados da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM).

O modelo mostra também que o uso tardio da tecnologia pode criar efeito cascata de despesas, já que cada recidiva exige mais internações, medicamentos e tempo de hospitalização. Quando a terapia é adotada mais cedo, o retorno tanto econômico quanto em resultados é maior.

Avanços significativos nas taxas de cura

Antes do advento da CAR-T, a taxa de cura para o linfoma difuso de grandes células B recorrente não superava 20%. Com a nova terapia, índices de cura e sobrevida sobem para 50% a 60% em dois anos, de acordo com o levantamento.

Estamos curando de 30% a 40% a mais de pacientes. É uma mudança real no destino dessas pessoas. – Samir Nabhan

Desafios para popularização da terapia

Apesar dos avanços, o alto custo e a necessidade de infraestrutura especializada ainda limitam o acesso à tecnologia, que depende de processos internacionais para produção. Instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan já pesquisam versões nacionais da terapia, que podem baratear custos e ampliar a oferta.

A dependência externa encarece. Produzir etapas no Brasil pode mudar isso. – Stephen Stefani

Perspectiva para o futuro da oncologia

O futuro do tratamento do câncer pode depender cada vez mais de decisões que levem em conta não só o preço imediato, mas o valor global para os pacientes e para o sistema de saúde.

A terapia é cara, mas custo-efetiva. Precisamos olhar o impacto global — menos recidivas, mais cura e mais tempo de vida. – Samir Nabhan

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