Esportes

São Silvestre chega à 100ª edição com recorde feminino

Prova de 15 km reúne 55 mil corredores de 44 países em São Paulo; brasileiras buscam fim de jejum na elite enquanto protagonismo das mulheres e trabalho em grupo ganham destaque

31/12/2025 às 08:28 por Redação Plox

Na centésima edição, a Corrida Internacional de São Silvestre alcança marcas históricas. Nesta edição, 55 mil corredores de 44 países se inscreveram para participar da mais tradicional prova de rua do Brasil, o maior número já registrado. Entre eles, as mulheres representam 47% dos inscritos, o que também estabelece um novo recorde de participação feminina.

Dos 55 mil corredores inscritos, 47% são de atletas femininas.

Dos 55 mil corredores inscritos, 47% são de atletas femininas.

Foto: Reprodução / Agência Brasil.


O aumento da presença de atletas mulheres na prova foi celebrado por nomes de destaque do esporte nacional. Em entrevista coletiva concedida na manhã desta terça-feira (30), em São Paulo, a brasileira Núbia de Oliveira, melhor colocada na São Silvestre de 2024, afirmou que o crescimento dessa participação funciona como combustível extra para buscar a vitória nesta quarta-feira.

Protagonismo feminino e superação na São Silvestre

Núbia lembrou que a história da prova guarda um passado de exclusão para as mulheres, que só passaram a competir oficialmente anos depois do início da corrida. Para ela, ver tantas atletas na largada reforça o caráter de superação que a São Silvestre carrega e mostra como a corrida de rua se tornou um espaço de encontro e fortalecimento entre mulheres.


Segundo a atleta, esse ambiente permite que cada corredora teste seus limites e perceba, na prática, que a determinação pode levá-las além do que muitas imaginavam possível. Nesse cenário, as conquistas de gerações anteriores passam a servir de inspiração, ao mesmo tempo em que as corredoras de hoje também se tornam referência para novas participantes.


A brasileira Jeane dos Santos é outro exemplo desse movimento. Ela destacou como a prova e a rotina de treinos transformaram sua vida e ajudaram no enfrentamento de problemas emocionais, como depressão e crises de ansiedade. A corredora relatou que, em sua cidade, na Bahia, se tornou modelo para muitas outras mulheres, que passaram a correr motivadas por sua trajetória.


Para Jeane, a corrida simboliza uma forma de libertação. Ao treinar ou competir, ela diz esquecer as dificuldades do dia a dia e se sentir livre — sensação que, em sua visão, deveria ser uma conquista de todas as mulheres.

Desafio ao domínio africano e tabu brasileiro

Mesmo confiantes e bem preparadas, Núbia e Jeane sabem que a prova deste ano reserva desafios duros. O Brasil não vence a São Silvestre feminina desde 2006, e a quebra desse tabu passa por superar diretamente um bloco forte de africanas, com destaque para as quenianas, dominantes desde 2016.


Entre as principais adversárias está a queniana Cynthia Chemweno, vice-campeã em 2024. Ela disse estar orgulhosa de representar seu país e prometeu buscar um desempenho ainda melhor nesta edição, destacando o apoio do público brasileiro ao longo do percurso como um diferencial que a motiva a correr em São Paulo.


Outra forte concorrente é a tanzaniana Sisilia Ginoka Panga, que disputa a São Silvestre pela primeira vez. Ela afirmou estar encantada com o clima e a energia da capital paulista e garantiu ter se preparado bem para fazer uma grande prova.

Estratégia em grupo e o “jeito brasileiro” de correr

No masculino, o jejum brasileiro também é longo. A última vitória de um atleta do país foi em 2010, com Marilson Gomes dos Santos. Desde então, a prova tem sido dominada quase exclusivamente por corredores africanos. Para o brasileiro Johnatas Cruz, melhor representante do país nas duas últimas edições, uma das chaves dessa diferença está exatamente na forma de encarar treinos e competições.


Ele observa que, enquanto africanos costumam treinar e correr em grupo, os brasileiros tendem a priorizar o trabalho individual. Em sua avaliação, a adoção de uma estratégia mais coletiva, com atletas do mesmo país buscando sustentar ritmo conjunto ao longo da prova, poderia ser um divisor de águas para recolocar o Brasil entre os vencedores.


O também brasileiro Wendell Jerônimo Souza compartilha da mesma visão. Para ele, é fundamental tentar manter, ao menos na parte inicial da corrida, um grupo de brasileiros correndo em um ritmo semelhante. Ainda que as condições individuais variem no dia da prova, a existência desse bloco poderia ajudar o país a brigar por posições mais à frente e a construir uma prova taticamente diferente.


O queniano Wilson Maina, que costuma competir com frequência no Brasil e diz ter grande identificação com o país, ressaltou que essa postura coletiva é um dos segredos atuais do sucesso africano em corridas de rua. Segundo ele, a união entre os atletas e o treinamento em grupo criam um ambiente de amizade e apoio mútuo, o que facilita enfrentar as dificuldades do percurso.


Joseph Panga, da Tanzânia, reforçou essa ideia ao destacar a importância da amizade dentro dos treinos. Para ele, é esse espírito de parceria que impulsiona os atletas a ir mais longe. Na avaliação de Maina, a principal diferença entre brasileiros e africanos está justamente nesse ponto: enquanto corredores do Quênia e de outros países africanos normalmente se preparam em grupo, muitos brasileiros treinam sozinhos, o que torna mais difícil superar obstáculos ao longo do caminho.

Programação e percurso da 100ª edição

A edição de número 100 da Corrida Internacional de São Silvestre será disputada na manhã desta quarta-feira (31), encerrando o calendário esportivo brasileiro. A programação começa às 7h25, com a largada da categoria cadeirantes. Às 7h40, partem as atletas da Elite A e B feminina. Já às 8h05, é a vez dos corredores da Elite A e B masculina, das pessoas com deficiência e do Pelotão Premium masculino e feminino. Em seguida, larga o pelotão geral.


Desde 1991, o percurso da São Silvestre tem 15 quilômetros. Ao longo dos anos, recebeu pequenos ajustes, mas segue valorizando pontos turísticos de São Paulo. A largada acontece na Avenida Paulista, na altura do número 2084, e o trajeto inclui trechos emblemáticos, como a subida da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio. A chegada é em frente ao prédio da Fundação Cásper Líbero, também na Paulista, no número 900, fechando o roteiro da mais tradicional corrida de rua do país.

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