Até 2050, uma em cada seis pessoas no mundo terá mais de 65 anos

O Brasil já ultrapassou a marca de 30 milhões de idosos, o que é um desafio para a sociedade, de uma forma geral, e também para o governo no que se refere aos cuidados e ao acolhim

Por Plox

05/07/2019 10h45 - Atualizado há cerca de 5 anos

De acordo com um relatório da ONU, divulgado recentemente, a população mundial está se tornando mais velha devido a uma expectativa de vida maior e a taxas de fertilidade descendentes. O estudo aponta que até 2050, uma em cada seis pessoas no mundo terá mais de 65 anos; e estima-se que o número de pessoas com 80 anos ou mais, triplique, passando de 143 milhões em 2019 para 426 milhões em 2050.

De acordo com a especialista no processo de envelhecimento, Jullyanne Marques, o Brasil já ultrapassou a marca de 30 milhões de idosos, o que é um desafio para a sociedade de uma forma geral e também para o governo no que se refere aos cuidados e ao acolhimento deles.

Foto: Pixabaybuç

“Não adianta só a gente viver muito, não adianta só a gente atingir uma expectativa de vida elevada e não oferecer qualidade para estes idosos, não oferecer um processo de envelhecimento digno, com recurso para que eles possam ter acesso a saúde, acesso ao lazer; então tudo isso é um desafio nosso, como cidadão, e é um desafio também do governo, não adianta ficar também passando o problema para o outro”, comentou.

A Jullyanne Marques, que é gestora da Onix, uma empresa especializada no cuidado ao idoso em São Paulo, explica ainda que junto com o envelhecimento, muitas vezes, vem o medo de envelhecer.

“O idoso, que você vê hoje que tem 90 anos, ele não sabia que ele ia chegar aos 90 anos. E aí este idoso de 90 anos às vezes ele vê a família morrendo, os amigos morrendo e toda aquela preocupação em cima da morte, em cima dele, e aí gera-se o medo mesmo. É um medo do desconhecido, não da morte e sim da velhice. Hoje a velhice é uma coisa desconhecida para a gente. A gente achava que ia viver 60, 70 anos e hoje em dia a expectativa de vida já está levando a gente a viver 100 anos praticamente, né?”, disse.

Mas não é todo mundo que tem medo de envelhecer. O psicólogo José Raucci, de 72 anos, morador de São Paulo, por exemplo, trata do assunto de forma bem natural. Até 2013 ele fazia os atendimentos em um escritório. Depois disso, um dia, ele recebeu o convite para fazer o atendimento para uma criança, em um hospital. Lá, uma outra família o chamou para fazer um atendimento, só que desta vez, para uma senhora que também sofreu um acidente. A partir daí, ele se tornou o “psicoandarilho”, e, hoje em dia, vai até seus clientes de ônibus, de metrô, andando, mas o que ele não quer é ficar parado.

“Envelhecer é a coisa mais natural a partir da hora que a gente nasce. Então, ter medo do quê? Eu estou aqui e enquanto eu estou vivo eu estou querendo ser útil, faço o melhor possível, e vou em frente. Passo o meu dia conversando, caminhando, andando, trabalhando, estou me movimentando, não estou parado, olhando para a parede. Então eu acho que a melhor forma de envelhecer é envelhecendo, mas sendo útil”, enfatizou.

Bom, mas envelhecer não é uma tarefa fácil para todo mundo. Segundo o professor da FGV, Alexandre Correa Lima, é possível observar algumas dimensões que serão fundamentais para que não apenas tenhamos uma longa vida, mas sobretudo uma vida plena, saudável e cheia de significado.

“Uma delas, obviamente, é a dimensão física. Você precisa chegar lá na frente bem de saúde física. Como você chegará aos 70, 80 ou 90, é uma consequência de como você levou sua vida aos 20, aos 30 e aos 40; se eu fui sedentário, se eu fui obeso, se me alimentei bem, se eu cuidei do meu corpo”, ressalta.

Outra dimensão seria a financeira. Segundo o professor, dinheiro não é tudo, mas obviamente, compra algum conforto material.

“Eu não falo aqui apenas em ter dinheiro para comprar remédio, para hospital, que é o que muita gente pensa. Se você for analisar o segmento de Turismo, as pessoas acima de 50 anos são as que mais movimentam esse mercado; elas estão viajando, estão conhecendo outros países. Você estar bem resolvido financeiramente é importante. E é importante não só por esta coisa óbvia de você ter acesso a uma saúde de mais qualidade, mas para você ter conforto, você talvez poder pagar um curso que você queira aprender uma nova habilidade, para você poder viajar”, ponderou o professor.

Além dessas, Alexandre Correa Lima destaca ainda mais quatro dimensões: a intelectual, onde não só o corpo tem que estar bem, mas a mente também; a dimensão social, que envolve a interação com o outro; a dimensão emocional, que deve ser bem administrada, para que não surjam doenças como a depressão, a ansiedade e o pânico; e a dimensão transcendental, pois, na visão de Lima, somos mais que a matéria.

O José Ulisses Alves Neto, mais conhecido como professor Ulisses, tem 74 anos, já se aposentou, mas fez outro concurso para a Secretaria de Educação do Distrito Federal e dá aula em um Centro de Línguas. Além disso, ele fala 10 idiomas, se intitula viciado em esportes, dá aulas de inglês de graça para pessoas de várias idades e garante que o segredo é manter a mente ativa.

“A inatividade envelhece a pessoa. Não só fisicamente, como mentalmente. E você estar em contato com jovens, você vampiriza aquele sangue jovem e consegue se tornar jovem também. Eu pedalo, eu gosto de academia, eu gosto de bicicleta, eu gosto de futevôlei, eu gosto de vôlei, futebol society, e assim por diante. Inclusive, eu tenho dificuldade nas filas preferenciais. As pessoas acham que eu estou burlando a lei”, brinca.

Até aqui nós falamos de casos positivos, de idosos que são ativos e bem sucedidos. Porém, há um outro assunto que merece destaque, que é a questão dos maus tratos com os idosos. Segundo dados do Disque 100, mais de 37 mil denúncias foram registradas apenas no ano passado. Quase 53% dessas violações foram cometidas pelos filhos; seguidos dos netos, com 7,8%. Os dados apontam também que as maiores vítimas são as mulheres, com 62,6% e, em 85,6% dos casos, as violações ocorrem dentro de casa.

Por isto, o governo federal criou o Programa Viver – Envelhecimento Ativo e Saudável, que busca reverter esse cenário por meio da autonomia e da independência. De acordo com o secretário de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, Antônio Costa, o programa disponibiliza cursos para a inclusão tecnológica, prevenção à saúde, educação financeira, direitos humanos, promoção da mobilidade física e mental, além de outras atividades.

“É um programa que vai fazer a inclusão digital da pessoa idosa; ele vai trabalhar a educação financeira; a educação daquilo que é direito da pessoa idosa através do Estatuto; vai trabalhar a educação em saúde; e a mobilidade, que é um aspecto importante, seja no esporte, seja inclusão na fisioterapia, na educação física”, comentou o secretário.

Outro ponto importante, de acordo com o presidente da Sharecare, Nicolas Toth, é que quanto mais se vive, mais se gasta com saúde.

“Pessoas a partir de 60, 65 anos de idade, passam a ter, pelo menos, uma ou mais doenças crônicas. A gente está falando isso em uma escala na ordem de 80 a 90% dessas pessoas. Ou seja, quase que um em um, das pessoas acima de 65 anos, tem uma doença crônica. O quê que representa esta doença crônica? Representa que o custo associado à esta pessoa, em termos de saúde, e muitas vezes envolvendo outros fatores, ele aumenta consideravelmente”, disse.

O custo com a saúde pública no Brasil chegou a R$ 131,2 bilhões em 2018, segundo o Ministério da Saúde, e a expectativa é que os gastos aumentem na mesma proporção que a população envelhece.
 

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