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Saúde
Especialistas alertam: jejum prolongado não cura o câncer e pode ser perigoso
Promessas de curas milagrosas, como o jejum de 21 dias, se espalham nas redes sem respaldo científico e colocam pacientes oncológicos em risco.
12/11/2025 às 08:08por Redação Plox
12/11/2025 às 08:08
— por Redação Plox
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Periodicamente, novas supostas “curas milagrosas” para o câncer ganham força nas redes sociais. De superalimentos e suplementos a dietas restritivas, as promessas chamam atenção — mas quase sempre carecem de respaldo científico. Uma das mais recentes tendências afirma que fazer um jejum de água de 21 dias poderia privar as células cancerosas de energia, levando à autodefesa do corpo. A ideia parece simples e até motivadora: basta parar de comer para que o organismo combata a doença.
Cientistas alertam que abstinência de água por 21 dias não extermina células cancerígenas e pode causar sérios riscos à saúde
Foto: Reprodução
Por que a ciência alerta para os perigos do jejum prolongado
O câncer é um conjunto complexo de doenças, e o metabolismo do corpo não alterna entre saudável e doente com facilidade. Embora o jejum realmente influencie a forma como as células utilizam energia, não há evidências científicas de que essa prática seja capaz de eliminar tumores. Pelo contrário, o jejum prolongado pode ser perigoso especialmente para quem já se encontra debilitado pelo câncer ou está em tratamento.
Estudos laboratoriais sugerem que restrições calóricas de curta duração ou o jejum intermitente podem afetar reparos celulares e o gerenciamento da energia, inclusive suprimindo temporariamente células-tronco do intestino. Quando a alimentação retorna, essas células entram em fase regenerativa, impulsionadas por uma via conhecida como mTOR, responsável por promover a síntese de proteínas e a proliferação celular.
Apesar desse efeito de regeneração, existe uma preocupação importante: essa janela de recuperação também pode facilitar o surgimento de mutações, elevando o risco de formação de tumores.
O que os estudos realmente mostram sobre o jejum e o câncer
A maioria das pesquisas sobre os efeitos do jejum centrou-se em períodos curtos, entre 12 e 72 horas. Os jejuns extremos, como os de apenas água por três semanas, defendidos por alguns grupos, trazem riscos graves. Entre os perigos listados estão desidratação, desequilíbrios eletrolíticos, pressão arterial baixa e perda de massa muscular.
Vale lembrar que o câncer, por si só, contribui para a desnutrição e perda de peso. Jejum prolongado pode acelerar a caquexia (perda muscular intensa), enfraquecer o sistema imune e aumentar a chance de infecções. Muitos pacientes oncológicos precisam de nutrição adequada para suportar os efeitos dos tratamentos como a quimioterapia, essenciais para manter a função dos órgãos e o metabolismo dos medicamentos. Unir jejum extremo com quimioterapia ou outros tratamentos pode amplificar a toxicidade, atrasar a recuperação e piorar a fadiga.
Poucos estudos clínicos controlados sobre jejum são realizados em pacientes com câncer, e esses protocolos são sempre rigorosamente monitorados por questões de segurança.
Jejum e metabolismo: benefícios limitados, riscos elevados
O jejum chama a atenção de pesquisadores porque ativa mecanismos de sobrevivência, incluindo a autofagia, processo pelo qual as células reciclam componentes danificados. Em animais, isso pode trazer benefícios como redução de inflamação e melhora da saúde metabólica.
No câncer, porém, a realidade é mais desafiadora. As células malignas muitas vezes conseguem contornar a escassez de nutrientes, buscando fontes alternativas de energia e, em certos casos, superando células saudáveis nessas condições adversas. Além disso, períodos longos sem alimentação podem enfraquecer as células do sistema imune justamente quando elas deveriam auxiliar no combate aos tumores.
Pesquisas recentes, como as de 2024, revelam que a reintrodução de alimentos após o jejum reativa fortemente vias de crescimento celular. Se isso pode ser positivo para a reparação de tecidos em células normais, em células já alteradas pode favorecer o avanço do câncer. O jejum, portanto, deixa de ser uma simples intervenção e passa a representar um fator de estresse biológico complexo.
O mito da desintoxicação e seus riscos
Grande parte da atração popular pelo jejum tem origem na noção equivocada de “desintoxicação”. No caso do câncer, a doença surge a partir de alterações genéticas que levam à proliferação descontrolada das células, não por “toxinas” ou detritos que possam ser eliminados pelo jejum. Nenhuma pesquisa mostra que a prática elimina células tumorais em humanos.
Embora alguns estudos tenham registrado alterações metabólicas de curto prazo — como redução da inflamação e alterações em vias da insulina —, tais mudanças não revertem o câncer após sua instalação. O risco é que promessas sem respaldo confundam pacientes, criando falsas expectativas ao citar apenas aspectos parciais do jejum e omitindo limitações importantes dos estudos.
Promessas x realidades na pesquisa metabólica
A investigação científica sobre os impactos do metabolismo no câncer existe e avança, analisando estratégias como restrição calórica e dietas cetogênicas para potencializar tratamentos. Contudo, esses estudos são iniciais e focam em abordagens precisas, e não em privações extremas de nutrientes. Nenhuma pesquisa propõe deixar o corpo sem qualquer alimento por semanas como tratamento válido.
O jejum, quando estudado, é sempre considerado como fator de estresse fisiológico: controlado, pode promover adaptações benéficas; fora de controle, pode causar danos severos, especialmente em quadros de doenças.
Tratamento do câncer exige base científica
Jejum de água por 21 dias não é um tratamento seguro nem plausível para o câncer. O avanço no conhecimento sobre os efeitos do jejum aprofunda a compreensão das ligações entre nutrição, metabolismo e doença, mas não oferece justificativa para substituir terapias oncológicas comprovadas.
Aspectos como nutrição equilibrada, hidratação e hábitos saudáveis podem ser aliados importantes durante as terapias, mas não substituem tratamentos baseados em evidências como quimioterapia, radioterapia, cirurgia e imunoterapia.
A atração por soluções simples costuma surgir do medo e da esperança diante de um diagnóstico de câncer. Porém, essa esperança não deve nunca se basear em informações equivocadas.