Ipatinga confirma duas mortes por febre maculosa no município

A suspeita foi divulgada em primeira mão pela Plox ainda no mês de julho.

Por Matheus Valadares

30/08/2023 10h58 - Atualizado há quase 2 anos

A Vigilância Epidemiológica de Ipatinga confirmou nessa terça-feira (29) os dois casos de óbito por Febre Maculosa (uma doença transmitida por carrapatos) que estavam em investigação. A suspeita foi divulgada em primeira mão pela Plox ainda no mês de julho. Há ainda um outro óbito confirmado na região do Vale do Aço. 

Segundo apurado pela nossa reportagem e confirmado pela prefeitura de Ipatinga, as duas vítimas estavam praticando pesca em uma lagoa no Colar Metropolitano do Vale do Aço, no momento que foram infectados pelo carrapato. J. R. S., um homem de 64 anos, residente no Centro de Ipatinga, morreu no dia 23 de julho de 2023. Já, G. H. S. S, de 29 anos, morador do bairro Bom Jardim, que veio a óbito no dia 27 de julho.

A confirmação oficial da Febre Maculosa foi resultado de uma investigação minuciosa conduzida pela equipe da Vigilância Epidemiológica de Ipatinga. O exame de biologia molecular detectável foi crucial para determinar que a doença foi a causa dos óbitos.

A Vigilância Epidemiológica de Ipatinga está intensificando seus esforços para fornecer informações atualizadas e garantir a segurança da comunidade. A colaboração da população é fundamental para prevenir futuros casos de Febre Maculosa.

Para obter informações adicionais e orientações sobre como se proteger contra a Febre Maculosa, os interessados devem entrar em contato com a Vigilância Epidemiológica de Ipatinga.

Relembre o caso

A revelação deste caso se deu durante a transmissão do PodPlox, que vai ao ar de segunda a sexta, às 19h30, no site, canal do Youtube e nas redes sociais da Plox. O biólogo especialista em fauna silvestre, professor e coordenador de pesquisa do Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais (Unileste), Marcos Vinícius Rodrigues, veio ao programa fazer um alerta sobre a febre maculosa, destacando que gravidade pode levar à morte. Neste momento, amigos e familiares do idoso  entraram em contato com programa informando que ambos haviam falecido em decorrência da febre maculosa. Segundo eles, José morreu no último domingo (23). Apesar da causa da morte ser informada no documento, é necessário que seja feitos exames laboratoriais pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Veja trecho em que familiares fazem a denúncia:

Assista ao programa na íntegra:

 

Entenda

Segundo relato de familiares à Plox, a suspeita é que idoso tenha sido infectado durante uma pescaria. No dia 11 deste mês, ele e um amigo, foram em uma localidade conhecida como Lagoa Vermelha, em Cordeiro de Minas, distrito de Caratinga, no Colar Metropolitano do Vale do Aço, para pescar.

No dia 18 a vítima começou a sentir os sintomas, no entanto, uma das filhas do homem relatou que família até então estava “perdida” sem saber a causa e “procurando respostas”.

Na última sexta-feira (21), ele foi levado para a UPA da cidade, que o encaminhou imediatamente para Hospital Municipal Eliane Martins, onde foi internado de sábado para domingo.

Devido ao quadro de saúde do senhor, ele foi para a UTI no domingo (23) e induzido ao coma, no entanto, não resistiu e morreu no mesmo dia. Antes do óbito, a família procurou o amigo do idoso, um homem de 29 anos, que foi com ele na pescaria. O objetivo era saber se o rapaz havia percebido algo diferente no idoso.

Mas para a surpresa das filhas da vítima, o amigo de seu pai também estava na UTI e com os mesmos sintomas. O rapaz também teve seu quadro evoluído para óbito. Nossa reportagem não conseguiu confirmar com autoridades de saúde se a causa morte também foi registrada como febre maculosa.

A nossa reportagem entrou em contato com a prefeitura de Ipatinga na manhã desta quinta-feira (27), no entanto, até o fechamento desta matéria não fomos respondidos. O espaço segue aberto para a manifestação.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG) informou que “o número de casos registrados até o momento está dentro do esperado para o período”. A secretaria também fez questão de informar que a doença pode ser registrada durante todo o ano, mas há uma maior frequência no período de seca, sobretudo entre os meses de abril e outubro.

“Embora casos de febre maculosa possam ocorrer durante todo o ano, trata-se de uma doença sazonal e verifica-se que a maior frequência de casos é registrada no período de seca, especialmente entre os meses de abril e outubro”. Diz a nota.

O que é

A Febre Maculosa é uma doença febril aguda, de gravidade variável, que pode cursar com formas leves e atípicas, até formas graves, com elevada taxa de letalidade. A doença é causada por bactérias do gênero Rickettsia e transmitida pela picada de carrapatos infectados. Em Minas Gerais, os principais vetores e reservatórios da doença são os carrapatos do gênero Amblyomma (Amblyomma sculptum), também conhecidos como "carrapato estrela", "carrapato de cavalo" ou “rodoleiro”. 

Já o agente etiológico maisfrequente é a bactéria Rickettsia rickettsii, responsável por produzir os casos mais graves da doença, aqui denominada Febre Maculosa Brasileira (FMB).

Os equídeos, canídeos, roedores como a capivara e marsupiais como o gambá têm importante participação no ciclo de transmissão da febre maculosa, podendo atuar como amplificadores de riquétsias e/ou como transportadores de carrapatos potencialmente infectados.

Sintomas

Os principais sintomas da febre maculosa são: febre, dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos, diarreia e dor abdominal, dor muscular constante, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas, paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória. Além disso, com a evolução da doença é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés. Embora seja o sinal clínico mais importante, as manchas vermelhas podem estar ausentes, o que pode dificultar e/ou retardar o diagnóstico e o tratamento, determinando uma maior letalidade.

Tratamento

O tratamento da FMB é realizado com antimicrobianos, e deve ser iniciado precocemente, nas fases iniciais da doença, para evitar óbitos e complicações. O sucesso do tratamento está diretamente relacionado à precocidade de sua introdução e à especificidade do antimicrobiano prescrito.

Se não tratado, o paciente pode evoluir para um estágio de apatia e confusão mental, com frequentes alterações psicomotoras, chegando ao coma profundo.

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser sorológico (padrão ouro), ou por meio da pesquisa direta da riquétsia (bactéria) — realizada mediante técnicas de imuno-histoquímica, biologia molecular (PCR) ou isolamento.

Sazonalidade

Embora casos de FMB possam ocorrer durante todo o ano, trata-se de uma doença sazonal. Verifica-se que a maior frequência de casos é registrada no período de seca, especialmente entre os meses de abril a outubro.

Nesse período ocorre a predominância das formas de larva e ninfa do carrapato no ambiente; tratam-se de formas muito pequenas e de difícil visualização, que tendem a permanecer mais tempo aderidas ao corpo dos indivíduos sem serem percebidas, facilitando a infecção pela bactéria causadora da doença.

Prevenção

As principais medidas preventivas na febre maculosa são aquelas voltadas às ações educativas, com vistas à orientação da população sobre as características clínicas da doença, unidades de saúde e serviços para atendimento, importância do diagnóstico e tratamento oportunos, áreas de risco e ciclo do vetor.

Para áreas de conhecida infestação por carrapatos ou sob risco de ocorrência de casos recomenda-se:

Uso de repelentes à base da substância Icaridina, eficazes na prevenção de picadas por carrapatos;

Uso de roupas de cor clara, vestimentas longas, calçados fechados (preferencialmente com meias brancas e de cano longo);

Uso de equipamentos de proteção individual nas atividades ocupacionais (capina e limpeza de pastos);

Evitar se sentar e deitar em gramados em atividades de lazer como caminhadas, piqueniques, pescarias etc.;

Examinar o corpo periodicamente, tendo em vista que quanto mais rápido o carrapato for retirado do corpo, menor a chance de infecção;

Se verificados carrapatos no corpo, retirá-los com leves torções e com o auxílio de pinça, evitando o contato com unhas e o esmagamento do animal;

Utilização periódica de carrapaticidas em cães, cavalos e bois, conforme recomendações de profissional médico veterinário;

Limpeza e capina periódica de áreas de vegetação passíveis de cuidados.

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